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Editor: Jessé Vinicius Lana

Colaboradores: Ana Santin, Leandro Rosin, Nicolas Dominico, Renata Mazzuco

A formação da medicina social pode ser dividida em três etapas relacionadas ao desenvolvimento de civilizações Européias: medicina de Estado, medicina urbana e medicina de força de trabalho.

Medicina de Estado

Foi iniciada na Alemanha, no começo do século XVIII. Nessa época, a Alemanha ainda não era um país unificado, mas sim fragmentado, formado por vários pseudo-estados. Como esses estados eram pequenos e muito numerosos, o desequilíbrio entre as forças política, econômica e militar fez com que fossem obrigados a se medir uns contra os outros. Começaram então a desenvolver maneiras de mudar essas relações de força. Ao contrário da França e da Inglaterra na época, que eram dotadas de grandes exércitos e força policial, os pequenos estados alemães não dispunham desse recurso. A partir desse momento houve a necessidade de fortalecer métodos de desenvolvimento estatal da sociedade. 

Além disso, a Alemanha passava nesse momento da história por um período de estagnação econômica. Isso fez com que a burguesia se aliasse ao Soberano para que organizassem melhor o Estado. Como as nações do mundo europeu passavam pelo modelo político-econômico do mercantilismo, onde suas metas eram o controle do fluxo monetário entre as nações, controle do fluxo de mercadorias e grande atividade produtora da população, ou seja, métodos para pagar organizar grandes exércitos e tudo mais que assegurasse a força de um estado sobre outro. Todos estes fatos induziram o desenvolvimento de uma Ciência do Estado, onde este se torna objeto e lugar de formação de conhecimentos específicos, como a formação de políticas públicas.

Com a finalidade de controlar melhor a produção e conseqüentemente a quantidade de população ativa, a Alemanha desenvolveu um plano médico efetivo, centrado na saúde da população, que ficou conhecido como “Política médica de Estado”. Esse programa consiste em:

1)    Um modo mais avançado de observação de morbidade (incidência de determinadas doenças), ao exigir que médicos e hospitais façam a contabilização.

2)       Registro dos diferentes fenômenos endêmicos e epidêmicos.

3)      Normalização da profissão médica, ao mesmo tempo em que a medicina era cada vez mais estatizada.

4)   Os médicos começam a ter mais autoridade para decidir sobre o ensino universitário e atribuição de diplomas.

5)      Cria-se uma organização administrativa para controlar a atividade dos médicos. O médico é subordinado a um administrativo superior.

6)     Funcionários médicos são nomeados pelo governo.

Portanto, a medicina de Estado Alemã, gerou a organização de um saber e atuação médica estatizada. Esta medicina não tem nenhuma relação com força de trabalho para as indústrias. Ela está dirigida para a saúde dos cidadãos como força do Estado, principalmente para conflitos políticos e econômicos.

Medicina Urbana

A medicina urbana aconteceu na França, no fim do século XXVIII, através do desenvolvimento das estruturas urbanas (urbanização).

Por volta de 1750, paralelamente ou como conseqüência do crescimento urbano, havia em Paris grande quantidade de fábricas e oficinas sendo construídas, população ficando cada vez mais numerosa e vivendo em pequenos espaços sob aglomerações, os cemitérios também cresciam constantemente e iam invadindo a cidade pouco a pouco. Diante dessas mudanças radicais o aparecimento de epidemias urbanas se tornou cada vez mais frequente e isso levou a uma situação de medo das pessoas em relação à cidade.

No centro de Paris havia um cemitério chamado “cemitério dos inocentes”, onde a situação chegou ao ponto caótico de os corpos caírem por cima do muro, para o lado de fora. As pessoas que moravam nas redondezas do cemitério acreditavam que a proximidade dos mortos fazia com que o leite talhasse e a água apodrecesse.

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As primeiras ossadas das catacumbas de Paris vieram do Cemitério dos Inocentes. http://v.i.uol.com.br/album/7maravilhas_subterraneas_f_021.jpg

A burguesia então desenvolveu medidas para tentar controlar esse “pânico urbano” que havia surgido. Trata-se do modelo médico da Quarentena, que já havia sido utilizado, porém menos aprofundado e em menor escala, na idade média. Os métodos deste plano de urgência eram:

1)     Cada família em sua casa. Cada pessoa em seu compartimento. Sem movimentação.

2)     Cada bairro tinha um chefe de distrito, que chefiava os inspetores que percorriam as ruas verificando se alguém saía de seu local. Os inspetores deviam fazer relatórios sobre o que observavam e enviar ao prefeito da cidade.

3)   Os inspetores pediam para os habitantes se apresentarem na janela. Caso alguém estivesse doente (contraído a peste) era levado para uma enfermaria fora da cidade.

Este esquema médico é diferente do esquema de quarentena suscitado pela lepra na idade média. O leproso quando era descoberto, era expulso do espaço comum e posto para fora da cidade, onde iria se juntar aos outros leprosos. Portanto, a medicina naquela época utilizava o mecanismo de exclusão. Já no modo de quarentena desenvolvido posteriormente, suscitado pela peste, tem-se o mecanismo de internação, de observação minuciosa e não mais o de exclusão.

Além do método da quarentena, a medicina urbana lança mão de outros objetivos, com a finalidade de “purificar o espaço urbano”. Dentre eles podemos destacar:

1)    Eliminar ou amenizar os locais onde há acumulo de materiais capazes de gerar doenças ou fenômenos epidêmicos na cidade (eram principalmente os cemitérios). A partir disso os cemitérios foram levados para a periferia da cidade e surgiram as sepulturas com caixões individuais.

2)    Começou a preocupação com a circulação do ar e da água. Começaram a relacionar possíveis doenças com o controle da circulação. Abriram grandes avenidas para facilitar o arejamento da cidade.

3)      Preocupações com a água consumida. Procura das melhores fontes e busca de água para beber estando atentos a possíveis locais de esgoto ou barcos-lavanderia.

A medicina urbana, portanto, não é centrada no corpo nem no indivíduo. Ela é centrada no ambiente físico, como o ar, água, decomposições. Foi nesse momento que surgiu a noção de salubridade, que é a definição de uma condição (geralmente de fatores e características ambientais) das coisas do meio e seus elementos constitutivos, que proporcionem a melhor saúde possível.

Medicina Inglesa[]

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Revolução Industrial. http://3.bp.blogspot.com/-gTNHundAa3s/UU3-BioaLEI/AAAAAAAABQM/R6RQmrUdjwY/s1600/sweeper-and-doffer-in-cotton-mill.jpg

O exemplo Inglês é o terceiro rumo da medicina social. Essa abrange a saúde do pobre, do operário enquanto força de trabalho. Esse foi, portanto, o último alvo da medicina social, e não o primeiro, como muitos pensam. Na medicina urbana francesa, o pobre não era visto como uma ameaça. A maior preocupação deles era o meio ambiente, os cemitérios, a disposição da água e do ar. Mas a partir do século XIX, na Inglaterra, no contexto da revolução industrial, os pobres tornaram-se uma ameaça ao Estado. Isso se deveu a razões políticas (a população pobre começou a participar de revoltas), razões econômicas e principalmente o surto de cólera, que acabou dividindo o espaço urbano entre ricos e pobres.

Nesse momento surge uma nova força de medicina social. A “Lei dos Pobres” abrangia um controle médico do pobre. Com essa lei surgiu a ideia de assistência controlada. Dessa forma foi possível “ajudar” os mais pobres e ao mesmo tempo proteger os ricos de possíveis doenças e epidemias que poderiam se originar na classe pobre. Foi formado um forte esquema sanitário autoritário no interior das cidades.

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Revolução Industrial - Séc XVIII. http://wikigeo.pbworks.com/f/1336054954/rev_3.jpg

Em torno de 1870, os grandes fundadores da medicina social inglesa, principalmente John Simon, completaram a legislação médica da "Lei dos pobres" com a organização de um serviço autoritário, não de cuidados médicos, mas de controle médico da população. Ficou conhecido como sistema “Health Service”, que começou por volta de 1875. Esse sistema consistia em: controle da vacinação, obrigando toda a população a se vacinar; organização do registro de epidemias e doenças potencialmente epidêmicas; localização de lugares insalubres e eventual destruição desses lugares. Enquanto a lei dos pobres era um serviço médico destinado ao pobre enquanto tal, o “Health service” atingia igualmente toda a população, além das coisas e do espaço social. Diante dessas imposições, surgiram diversos grupos aparentemente religiosos com o desejo de escapar da medicalização autoritária no final do século XIX.

Enfim, a medicina de força de trabalho inglesa, muito diferente da medicina de estado alemã e da medicina urbana francesa tinha como objetivo o controle da saúde das classes pobres, para dessa forma obter maior força de trabalho disponível e ao mesmo tempo proteger a saúde das classes mais ricas. Esse tipo de medicina foi a que teve futuro, diferente das anteriores. O sistema inglês de Simon permitiu a relação de três métodos: assistência médica ao pobre, controle da saúde da força de trabalho e observação geral da saúde pública.

Links relacionados

http://www.ead.fiocruz.br/_downloads/material-620.pdf (Acessado dia 27 de abril de 2013).

http://www.zemoleza.com.br/gmini/trabalho33802.html (acessado dia 27 de abril de 2013).

http://www.moodle.ufba.br/file.php/10029/Saude_bucal_coletiva/epidemiologia_e_servi_os_de_sa_de.pdf (páginas 65 a 68, acessado dia 27 de abril de 2013).

Referências Bibliográficas

1- Jessé, J.V. Anotação da aula da disciplina de Psicologia Médica. Univille. 12/03/2013

2- Foucault, M. Microfísica do Poder. 1ª Edição. Graal Editora, 2008.

3- NUNES, Everardo Duarte. Saúde Coletiva: história e paradigmas. Botucatu, v2, n3. Agosto, 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32831998000200008&script=sci_arttext&tlng=es. Acessado em 10 de abril de 2013.

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