Editora: Renata Dal Bó Mazzuco
Colaboradores: Ana Santin, Jessé Lana, Leandro Rosin, Nicolas Dominico
Teoria da Mente: Uma revisão com Enfoque na sua Incorporação pela Psicologia Médica[]
CAIXETA, Leonardo; NITRINI, Ricardo. Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela psicologia médica. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 15, n. 1, 2002 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722002000100012&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Apr. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722002000100012.
Psicologia Médica[]
“Área do conhecimento que se interessa pelos conhecimentos psicológicos susceptíveis de serem aplicados na medicina.” (Marchais, 1970)
A Psicologia Médica também busca a compreensão de manifestações psicopatológicas que envolvem a Teoria da Mente, exemplo o Autismo Infantil, a Esquizofrenia, os Transtornos Paranoides e a Erotomania.
Teoria da Mente[]
“Capacidade desenvolvida pelo indivíduo de atribuir estados mentais para si mesmo e para os outros”. (Premack & Woodruff, 1978)
“Entendimento de que os outros possuem crenças, desejos e intenções que são distintas da sua própria” (Korkmaz, 2011)
Modelos da Teoria da Mente[]
Modelo 1: Simulação = Colocar – se no lugar do outro.
Modelo 2: Abstrato = Tentativa de prever como a mente do outro funciona.
Dificuldades Metodológicas nos estudos da teoria da mente:[]
Trabalhos puramente empíricos para o acesso da teoria.
Constructo complexo.
Influência de emoções e experiências.
Diferentes Abordagens da Psicologia[]
Leitura Mental[]
Aspectos Históricos[]
Povinelli e Preuss (1995) dividiram a Psicologia evolutiva dividida em duas correntes:
1)Inovação recente e exclusiva da espécie humana.
2)Alguns aspectos da teoria da mente existiam antes do humano.
“De acordo com a segunda corrente, primatas não hominídeos apresentam resquícios da teoria da mente”
Baron – Cohen (1996) dividiram a Psicologia Cognitiva em 4 módulos:
1-Detector de Intencionalidade - Desejos e metas
2-Detector de direção do olhar - Interpretação do olhar
3-Atenção Compartilhada - Relação eu – outros agentes - objeto
4-Teoria da mente - Entendimento do comportamento
Jou e Sperb (1999)
Se aprofundaram na Psicologia do desenvolvimento, estudando a Teoria da mente em crianças e procuraram determinar a idade do surgimento da teoria da mente. Os estudos abrodaram métodos teóricos e empíricos. Foi observada a influência da experiência e cultura no resultado dos testes.
Aspectos Evolutivos - Filogenéticos
O desenvolvimento da Teoria da Mente nos proporciona contribuições evolutivas como sofisticar as relações e a comunicação, prever ideias que os outros estariam formando a seu respeito e dominar grupos que não possuíam esse recurso cognitivo. Também para antecipar as possibilidades de respostas motoras de suas presas.
A teoria da mente existe em graus distintos. Nos primatas não hominídeos observa-se algum grau de teoria da mente.
Isso mostra que não é considerado um fenômeno do tipo “Tudo ou nada” e que pode ser considerada uma aquisição evolutiva.
Premack & Woodruff, 1978 foram pioneiros da existência da teoria da mente em chipanzés. Eles fizeram a experiência: “chimpanzé diante do vídeo” e constataram que eles foram capazes de reconhecer o problema apresentado, entender a intenção do ator e escolher alternativas compatíveis.
Povinelli e Preuss (1995) usaram uma metodologia desenvolvida por Gallup (1970) na experiência: “chimpanzé diante do espelho” e constataram o auto – reconhecimento e a utilização adequada da qualidade reflexiva (manchas na pele inacessíveis à visão direta).
Whiten e Byrne (1991) usaram uma metodologia distinta, de observação, sem intervenções diretas. Testaram a habilidade de fazer de conta e constataram a capacidade dos chimpanzés de “leitura da mente”.
Controvérsias da Teoria da Mente[]
Vasu Reddy e Paul Morris (2004) concluiram em estudo, ao contrário da constatação da maioria dos pesquisadores, que “Crianças muito mais novas do que os 3-4 anos foram capazes de confrontar, confortar, enganar, ajudar, brincar – comportamentos que pressupõem a compreensão de estados psicológicos de outras pessoas.”
Teoria da Mente: Uma revisão com Enfoque na sua Incorporação pela Psicologia Médica[]
CAIXETA, Leonardo; NITRINI, Ricardo. Teoria da mente: uma revisão com enfoque na sua incorporação pela psicologia médica. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 15, n. 1, 2002 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722002000100012&lng=en&nrm=iso>. access on 16 Apr. 2013. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722002000100012.
Recente interesse de pesquisadores brasileiros pelo tema;
Jou e Sperb (1999) fizeram uma revisão sobre as diferentes abordagens sobre a Teoria da Mente, Dias (1993) e Dias, Soares e Sá (1994) pesquisaram o desenvolvimento da Teoria da Mente em crianças e Bosa e Callias (2000) esudaram o Autismo relacionado a um distúrbio na Teoria da Mente;
Outras Pesquisas em Teoria da Mente[]
Kuczynski e Assumpção (1998)- Relação do autismo com o prejuízo na teoria da mente;
Roazzi e Santana (1999)- Constatação da aquisição da crença falsa a partir dos 5 anos (questionando dados da literatura estrangeira);
Trabalhos sobre Teoria da Mente na psicologia médica são ainda mais raros.
No Brasil[]
Caixeta, Simone e Nitrini (1997) / Caixeta (2000)
Aplicação da Teoria da Mente na Psicologia Médica Relação entre Teoria da Mente e Autismo e Esquizofrenia
Frith et Corcoran (1996)- Déficit de meta-representação responsável pelo sintomas esquizofrênicos, produzindo 3 tipo de déficit cognitivo:
Déficit da consciência dos objetivos;
Déficit da consciência das próprias intenções;
Déficit da consciência das intenções de outros.
Aplicação da Teoria da Mente na Psicologia Médica[]
Hard-Baylé (1999) materializa a falta de embasamento empírico em 3 dimensões:
1) Cognição: como testar o conceito de “atribuição de intenções”?
- pequenas histórias contadas ao pacientes e depois analisadas;
- história cômicas em quadrinhos sem material verbal;
- observação do comportamento de auto-reconhecimento de chimpanzés.
2) Clínica: qual comportamento patológico pode ser enquadrado como sinal de comprometimento da Teoria da Mente?
- Widlocher e Hardy-Baylé → pacientes esquizofrênicos com sintomas hebefrênicos = comprometimento da TM;
- Outras incapacidades da TM → dificuldade de interação com o meio social, delírios erotomaníacos e paranoides;
- Charlton e McClelland (1999) → TM preservada = os distúrbios delirantes são consequência de um raciocínio lógico baseado em ideias falsas a respeito do estado mental de outros indivíduos.
3) Neurofisiologia: a Teoria da Mente tem uma correlação direta com o cérebro?
- Estudos de autores relacionados às lesões frontais → lobo frontal parece ser a região mais relacionada à TM;
- Damasio → Mecanismo Marcador Somático (MMS) = utilização das próprias reações emocionais como indicadoras do estado emocional de outra pessoa;
Aspectos ontogenéticos da Teoria da Mente[]
Baron-Cohen (1989)[]
Afirmaram em estudo que aos 19 meses de vida esta habilidade cognitiva começa a ser detectável nas crianças.
Wimmer e Perner (1983[]
Crianças normais a habilidade de representar a relação entre os estados mentais de duas ou mais pessoas emerge, sedimentando-se aos 4 até os 6 anos de idade. Um indicador da presença de Teoria da Mente nas crianças seria sua capacidade de acerto nas tarefas de crenças falsas.
Roazzi e Santana (1999)[]
Estudam crianças brasileiras e defendem que é a partir dos 5 anos que a criança adquire esta habilidade. Diversas são as habilidades na criança que parecem atestar o aparecimento da Teoria da Mente.
Leslie (1987):[]
A habilidade de fingir num contexto de uma brincadeira ou jogo ( como numa brincadeira de “faz- de- conta”) parecem emergir apenas quando a capacidade de teorizar à respeito da mente dos outros já se encontra sedimentada.
Bretherton e Beeghly (1982):[]
O indicador da Teoria da Mente seria a utilização de verbos mentais:
-Acreditar
-Pensar
-Entender
-Conhecer
Wellman (1988) :[]
O indicador seria a capacidade de diferenciar estados físicos de mentais: O concreto que pode ser tocado e o abstrato que pode ser pensado.
Guttenplan(1996).[]
Criança: se habilitava numa função que reunia as mesmas características da Teoria da Mente apenas quando adquiria Competência na Representação Mental. Perspectiva moderna do desenvolvimento da Teoria da Mente.
Destacar da realidade a que estava “colada”
Outras Pesquisas em Teoria da Mente[]
As pesquisas no Brasil são muito recentes em Teoria da Mente, os primeiros estudos datam das últimas duas décadas do século passado.
Jou e Sperb (1999):
- Revisão de como diferentes correntes de pensamento abordam a Teoria da Mente;
Dias (1993) e Dias, Soares e Sá (1994):
- Psicologia do Desenvolvimento sobre a Teoria da Mente;
- Desenvolvimento dessa habilidade em crianças.
Bosa e Callias (2000):
Destacam autismo infantil como um distúrbio da Teoria da Mente;
Kuckzynski e Assumpção (1998):
Avaliam o autismo como um preuízo da Teoria da Mente
Roazzi e Santana (1999):
-Investigaram a aquisição da teoria da mente;
-Utilizaram falsa crença como método de avaliação;
-A aquisição foi percebida por volta dos 5 anos de idade.
Esses dados questionam a literatura extrangeira – 4 anos.
Os trabalhos do constructo da Teoria da Mente na psicologia médica são muito raros. Os únicos trabalhos empíricos são de Simone e Nitrini (1997) e de Caxieta em 2000.
Teoria da Mente – Diferentes abordagens[]
“Contra” a teoria da teoria da mente[]
Hobson diz que crianças adquirem a teoria da mente a partir das relações interpessoais. Astington e Gopnik sugerem que a compreensão da mente das crianças não está baseada em conhecimento, mas sim na psicologia popular. Bruner prioriza a cultura no desenvolvimento da criança.
Inatismo x Empirismo[]
Platão: aprender é mesmo descobrir o que já sabemos. Crença, opinião, raciocínio e indução.
Aristóteles: as ideias são adquiridas através de experiência. Sensação, percepção, imaginação, memória, raciocínio e intuição.
Inatismo
Fodor: o ser humano nasce com um módulo social que permite adquirir a psicologia popular da cultura da qual faz parte.
Leslie: ausência específica da habilidade nas crianças autistas déficit neurológico inato com ausência do módulo social.
Desenvolvimentistas[]
Precursores da teoria da mente em crianças através de formas rudimentares. Exemplo: contato ocular nos bebês.
Wellman e Carey relatam que na psicologia popular, o entendimento das interações com o meio cultural é semelhante entre crianças e adultos, diferindo apenas no desempenho. Construção da teoria da mente por Wellman. Primeiro estágio – desejos. Segundo estágio – crenças
Neuropsicologia[]
Baron-Cohen: defende que autistas não tem habilidade para regular a atenção compartilhada.
*Conceito de Atenção Compartilhada: Capacidade de coordenação triádica da atenção entre o ser, o outro e um terceiro evento, objeto ou símbolo. A compreensão e o uso dos comportamentos comunicativos não-verbais (contato ocular por exemplo) pelo bebê durante seu primeiro ano de vida o impulsionará para uma interação triádica, estabelecendo, desta forma, a Atenção Compartilhada ou Conjunta, considerada por estudiosos do desenvolvimento como precursora do desenvolvimento da linguagem e o primeiro passo para a compreensão dos comportamentos intencionais das outras pessoas. Estudos mostram que há um déficit importante nas habilidades de Atenção Compartilhada em crianças autistas, a qual parece estar também relacionada à severidade dos sintomas sociais apresentados por eles.
Evolucionistas[]
A capacidade de fazer leitura da mente e o faz de conta são uma herança filogenética. Através das atribuições de estados mentais é possível predizer comportamentos de outras pessoas.
Cognitivistas
Representação é a capacidade cognitiva que habilita o ser humano a interpretar o mundo exterior e interior. Como consequência, o ser humano atua de uma forma social, seja mais primitivamente ou evolutivamente.
Estudam as habilidades do pensamento e da linguagem através da compreensão da mente. Existem três níveis de representação do desenvolvimento cognitivo:
- Primário
- Secundário
- Metarepresentação
Nível primário
Relacionado ao reconhecimento, a criança reconhece os objetos mas não os interpreta.
Nível secundário
Surge habilidade interpretativa, a criança reconhece o que é real ou não. Self recognization.
Metarepresentação
A criança compreende que algo representado antes, agora é interpretado.
Culturalismo[]
A criança adquire conhecimentos, costumes e crenças pelo processo da socialização dentro da linguagem e cultura a qual pertence. “As crianças nunca desenvolveriam o conceito de estados mentais sem pertencer a uma cultura.”
Conclusão[]
Existem várias teorias que explicam o funcionamento da mente humana. Todas elas contribuem de alguma forma, e se complementam através das diferentes formas de análise.
Desse modo, ainda há espaço para novas pesquisas, afim de contribuir para o entendimento pleno da origem da teoria da mente.
Referências[]
1. Premack, D. G.; Woodruff, G. (1978). Does the chimpanzee have a theory of mind?. Behavioral and Brain Sciences 1 (4): 515–526.
2. Courtin, C. (2000). The impact of sign language on the cognitive development of deaf children: The case of theories of mind. Cognition 77: 25–31
3. Korkmaz B (May 2011). Theory of mind and neurodevelopmental disorders of childhood. Pediatr. Res. 69 (5 Pt 2): 101R–8R. doi:10.1203/PDR.0b013e318212c177.
4. Hayes, S. C., Barnes-Holmes, D., & Roche, B. Relational frame theory: A post-Skinnerian account of human language and cognition. New York. 2001
5. Antaki, C. (2004). Reading minds or dealing with interactional implications? Theory & Psychology, 14, 667–683.
6. Shanker, S. (2004). The roots of mindblindness. Theory & Psychology, 14, 685–703.
7. Reddy, V., & Morris, P. (2004). Participants don’t need theories: Knowing minds in engagement. Theory & Psychology, 14, 647–665.
8. Corcoran, R. (2001). Theory of mind in schizophrenia. In D. Penn & P. Corrigan (Eds.), Social cognition in schizophrenia (pp. 149–174).Washington, DC: American Psychiatric Association.
9. Lewandowski, A. et al. Apresentação em sala de aula. Disciplina Psicologia Médica. 09/04/13
10.Amaral, A. et al. Apresentação em sala de aula.Disciplina Psicologia Médica.09/04/13
11.Simoneti, A.C. et al. Apresentação em sala de aula.Disciplina Psicologia Médica.09/04/13
12.Tessarollo, A.G, Apresentação em sala de aula.Disciplina Psicologia Médica.09/04/13
Vídeos
Chimpanzee vs. Human child learning (1/2)
https://www.youtube.com/watch?v=pIAoJsS9Ix8
Chimpanzee vs. Human child learning (2/2)
https://www.youtube.com/watch?v=nHuagL7x5Wc
Self Recognition