Editora: Maria Eduarda Kostecki
Colaboradoras: Ana Gabriella Tessarollo, Laíssa Mara R. Teixeira e Thais Yuri Miura
Classificação[]
O Vírus do Dengue pertence ao grupo dos arbovírus e a família Flaviviridae (a mesma do vírus da febre amarela), a qual possui 70 membros, material genético RNA de fita única com polaridade positiva e replica-se no citoplasma. Seu envelope possui duas glicoproteínas E e M. Os vetores para o vírus do dengue são principalmente mosquitos e carrapatos e sua inativação ocorre Jessica por altas temperaturas, pH ácido, solventes ou detergentes. O gênero ao qual o vírus pertence é o Flavivirus.
Aspectos gerais[]
O principal vetor para o vírus do Dengue nas Américas é a fêmea do mosquito do gênero Aedes aegypti. 0 Aedes albopictus é um importante vetor na Ásia.
O vetor possui hábitos domésticos e diurnos, coloca ovos e gera larvas principalmente em ambientes artificiais. A fêmea põe ovos 4 a 6 vezes durante a vida (até 100 ovos cada vez) em locais de água limpa e parada. O processo de maturação dos ovos precisa da proteína albumina. Os ovos podem permanecer viáveis por até 450 dias, mesmo desidratados.
A fonte da infecção e reservatório vertebrado é o ser humano. Foi descrito, na Ásia e na África, um ciclo selvagem envolvendo macacos. O macrófago é a principal célula infectada pelo vírus.
Existem quatro sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4, e todos podem causar tanto a forma clássica da doença quanto formas mais graves. Entre esses 4 sorotipos apresentados ocorre uma variação genética e algumas variantes parecem ser mais virulentas e possuir maior potencial epidêmico.
Cada sorotipo confere uma imunidade específica permanente e contra outros sorotipos por curto período. Ou seja, no caso de uma infecção, a pessoa fica permanentemente protegida contra o sorotipo que causou a infecção e temporariamente protegida contra os outros sorotipos (essa proteção temporária geralmente ocorre apenas durante o período da infecção).
A infecção por um sorotipo pode causar reatividade cruzada em caso de nova infecção por outro sorotipo. Isso ocorre devido à semelhança entre os sorotipos, o que leva a uma acelerada opsonização do vírus. Assim, macrófagos e neutrófilos se dirigem mais rapidamente para o local da infecção e causam uma reação mais exarcebada.
Transmissão e Multiplicação[]
O ciclo de transmissão da dengue se inicia quando o mosquito Aedes aegypti, vetor da doença no Brasil, pica uma pessoa infectada. O vírus multiplica-se no intestino médio do vetor e infecta outros tecidos chegando finalmente às glândulas salivares. Uma vez infectado o mosquito é capaz de transmitir enquanto viver. Não existe transmissão da doença através do contato entre indivíduos doentes e pessoas saudáveis. Após a picada do mosquito, inicia-se o ciclo de replicação viral nas células estriadas, lisas, fibroblastos e linfonodos locais, a seguir ocorre a viremia, com a disseminação do vírus no organismo do indivíduo. Os primeiros sintomas como febre, dor de cabeça e mal-estar surgem após um período de incubação que pode variar de 2-10 dias. Uma vez infectada por um dos sorotipos do vírus, a pessoa adquire imunidade para aquele sorotipo especifico.
A replicação do vírus está detalhada no seguinte link: Ciclo de replicação viral da Dengue
Organização genômica[]
Há um ORF (open reading frame) que codifica a formação de uma única poliproteína não funcional. Esta proteína, após ser processada, irá originar proteínas funcionais que se dividem em um segmento estrutural e outro não estrutural.
Estrutural - CORE (capsídeo) e Envelope (espículas)
Não-estrutural - Proteínas com funções enzimáticas
Epidemiologia[]
A Dengue é mais incidente em países de regiões tropicais e subtropicais. A incidência da doença quadruplicou desde o ano de 1985 e a mortalidade vem atingindo 5 – 10% da população mundial. É a arbovirose mais importante do mundo.
No Brasil houve um aumento significativo de casos a partir de 2001. As regiões com mais casos notificados da doença são Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. Em Joinville, o primeiro caso autóctone foi registrado em 2011. Os casos de dengue aumentam no verão e o sorotipo mais freqüente é o DEN – 4.
Os fatores responsáveis pela ocorrência de epidemias de dengue são o incontrolável crescimento da população, a urbanização não planejada e não-controlada, o abastecimento de água e tratamento de resíduos não inadequados. A ausência do controle efetivo do mosquito faz aumentar a disseminação do vírus.
Aspectos clínicos[]
A doença inicia-se com caráter febril agudo que pode ter curso benigno ou grave.
• Dengue Clássica
Febre alta de início abrupto, dor retro-orbitária, cefaléia, mialgia, artralgia, anorexia, astenia, náusea, vômitos, pruridos, metrorragia, dor abdominal generalizada (em crianças). Podem ocorrer algumas manifestações hemorrágicas como petéquias, gengivorragia e epistaxe.
O diagnóstico deve diferenciar a Dengue Clássica de outras enfermidades como influenza, rubéola, sarampo, enteroviroses, febre tifóide, leptospirose, hepatite viral e outras arboviroses.
• Dengue Hemorrágica
A forma hemorrágica é uma forma grave de dengue. No início os sintomas são iguais ao dengue clássico, mas após o 5º dia da doença alguns pacientes começam a apresentar sangramento e choque. Os sangramentos ocorrem em vários órgãos. Este tipo de dengue pode levar a pessoa à morte. No início da fase febril, o diagnóstico diferencial deve ser feito com outras infecções virais e bacterianas e, a partir do 3º ou 4º dia, com choque endotóxico decorrente de infecção bacteriana ou meningococcemia. Outras doenças com as quais se deve fazer o diagnóstico diferencial são: leptospirose, febre amarela, malária, hepatite infecciosa, influenza, bem como outras febres hemorrágicas transmitidas por mosquitos ou carrapatos.
Algumas teorias sugerem o motivo da susceptibilidade à Dengue Hemorrágica:
Teoria de Rosen: relacionada à maior virulência de algumas cepas.
Teoria de Halstead: atribuída à exacerbação da resposta imune a infecções sequenciais por diferentes sorotipos.
Teoria da multicausalidade: atribuída a diversos fatores:
- individuais: paciente com comorbidades (asma brônquica, diabetes, anemia falciforme), paciente menor de 15 anos, lactentes.
- virais: sorotipos circulantes, virulência, etc.
- epidemiológicos: circulação simultânea de 2 ou mais sorotipos; tempo entre infecções (3 meses a 5 anos); sequência das infecções, etc.
Diagnóstico[]
O diagnóstico é clínico e laboratorial através do método ELISA para detecção de imunoglobulinas IgG ou IgM. Pode ser empregado o método PCR ou isolamento viral para determinação do sorotipo.
Tratamento[]
O tratamento é inespecífico e apenas sintomático. Convém o paciente fazer repouso, hidratação, usar analgésicos e antitérmicos (AAS não é recomendado por conta dos sintomas hemorrágicos), em casos de plaquetopenia grave é conduta fazer reposição de plaquetas e para pacientes com sangramento acentuado faz-se transfusão de sangue total.
Sinais de alerta: dor abdominal contínua, vômitos persistentes, hipotensão postural, hipotensão arterial, hepatomegalia dolorosa, hemorragias importantes, extremidades frias, pulso rápido e fino, agitação ou letargia, diminuição da diurese, diminuição repentina da temperatura corpórea, desconforto respiratório, aumento repentino de hematócrito.
Prevenção[]
Não há vacina. A vacina terá de ser protetora contra todos os 4 sorotipos, pois a imunização contra apenas um sorotipo predispõe a pessoa a contrair a forma hemorrágica da doença.
A prevenção se dá unicamente pelo controle da proliferação do vetor.
- Não acumular água em vasos e xaxins;
- Lavar e trocar a água de bebedouros com freqüência;
- Limpar calhas e lajes;
- Tratar a água de piscinas;
- Manter caixas d’água, garrafas, poços, latões fechados;
- Manter o lixo fechado/ensacado e seco;
- Eliminar a água acumulada em plantas como bromélias, babosas, bambus, bananeiras, espada de São Jorge, etc;
- Manter pneus, e outros objetos que possam acumular água, abrigados da chuva;
- Identificar propriedades desocupadas na vizinhança e identificar possíveis reservatórios de ovos do mosquito.
Referências bibliográficas[]
KOSTECKI, M. E. Anotações da aula da Disciplina de Microbiologia e Parasitologia. UNIVILLE. 27/09/2013
MURRAY, P. R; ROSENTHAL, K. S; PFALLER, M. A; Microbiologia Médica. Editora: Elsevier, Rio de Janeiro, 2006
Dengue: Informações técnicas. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/saude/profissional/visualizar_texto.cfm?idtxt=31125> Acesso em 28 out de 2013
JAWETZ, E., MELNICK, A. and ADELBERG, E. A. Microbiologia Médica, 21a ed., ed. Guanabara - Koogan, 2000