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Editora: Ana Luyza Santin

Colaboradores: Jessé V. Lana, Leandro Rosin, Nicolas Dominico e Renata Dal Bó


Psicologia das Doenças Dermatológicas[]

Pesquisas bibliográficas revelam poucos estudos sistemáticos da psiquiatria dos distúrbios dermatológicos. Porém, estudos de agentes psicofarmacológicos estão começando a proporcionar um melhor entendimento dos mecanismos básicos de componentes como histamina, prostaglandinas, serotonina, norepinefrina e dopamina nesses distúrbios. 

O acesso fácil à pele permite interação direta com as lesões e entre as causas das doenças estão as síndromes auto-infligidas (causadas pela própria pessoa, que possui afinidade e predileção pela pele) e as dermatoses e defeitos corporais (causam grandes impactos no funcionamento psicossocial do indivíduo).

Dermatose é um conjunto de doenças da pele, caracterizada por manifestações alérgicas persistentes, cujos  sintomas de uma forma geral, são formação de bolhas, coceiras, inflamações e escamação da pele.

As doenças dermatológicas afetam a comunicação tátil, o relacionamento corporal e as relações sexuais das pessoas.  Dessa forma, o manejo de portadores de alterações dermatológicas deve ser feito com consultoria/avaliação psiquiátrica, psicoterapia, técnicas comportamentais, abordagens psicodinâmicas e medicações psicotrópicas.

A sociedade atual possui padrões de estética e beleza bem delimitados e as pessoas com problemas dermatológicos podem se sentir inadequadas de tais exigências de “normalidade estética”. Logo, a sensação de discriminação acompanha o portador, provocando insatisfação consigo mesmo, sendo um foco causador de stress. Além disso, há a dificuldade nos relacionamentos interpessoais.

Griesemer (1978), que era dermatologista e psiquiatra, desenvolveu um índice do efeito de emoções em várias doenças de pele (ver Tabela 2).

Greisemer

Griesemer - Índice do efeito de emoções

Outro estudo, realizado por Seyhan, Aki, Karincaoglu e Ozcan (2006) revelou que  10% dos pacientes em uma clínica de dermatologia tinha distúrbios psicossomáticos e outros 15% tinham problemas de adaptação.

Ansiedade

A ansiedade aguda ou crônica pode agravar certo número de doenças de pele. Em um estudo recente, 13% dos pacientes de uma clínica de dermatologia tiveram um transtorno de ansiedade.

O tratamento da ansiedade pode ser através de métodos cognitivo-comportamentais, de treinamento de relaxamento ou auto-hipnose (Scott, 1960), ou pelo uso de ansiolíticos.

Depressão[]

A depressão primária pode levar a atos de auto-agressão para a pele, como coçar, cutucar, cortar, puxar, lacrimejamento ou de outra forma prejudicar a pele, cabelo ou unhas (Gupta, 2003).

Em um estudo recente, 32% dos pacientes em uma clínica de dermatologia tiveram depressão (Seyhan et al., 2006).  A maioria dos pacientes que têm dermatoses autoprovocadas, como escoriações neuróticas. Esses pacientes sofrem de depressão com somatização (Gupta, 2006).

O tratamento da depressão com um antidepressivo pode melhorar a resposta do tratamento do hábito de auto-prejudicial (Lee & Koo, 2003).

Delírios[]

Delírio de parasitoses

Os pacientes com delírios de parasitoses acreditam firmemente que seus corpos estejam infestados por algum tipo de organismo. Esses pacientes costumam responder melhor aos antipsicóticos típicos, como a pimozida (Orap ®) ou antipsicóticos atípicos como a olanzapina (Zyprexa ®) ou risperidona (Risperdal ®)

Somatização dissociativa[]

A característica dos transtornos dissociativos é a perda total ou parcial de uma função mental ou neurológica. Geralmente as funções afetadas são a memória, a consciência da própria identidade, sensações corporais e controle dos movimentos corporais. Esses acometimentos estão ligados a algum evento psicologicamente estressante na vida do paciente.

Em dermatologia, exemplos de somatização dissociativa incluem inexplicáveis síndromes sensoriais cutâneas e memórias do corpo de estresse traumático na síndrome de estresse pós-traumático.

As doenças e sintomas envolvidas nesse tipo de somatização incluem o prurido, a urticária ou angioedema e dermatoses auto-induzidas. Entre as dermatoses estão a  dermatite artefacta, a  tricotilomania e transtorno dismórfico corporal.

Dermatite artefacta: lesões cutâneas produzidas pelo paciente e propositadamente negadas. As lesões podem ser únicas ou múltiplas, de aparecimento abrupto, localizadas nas partes mais acessíveis ao alcance da mão.

Tricotilomania: pessoas que sofrem desse distúrbio arrancam os fios de cabelo, ou enrolam os fios no dedo para depois puxá-los. Nos casos mais graves acabam ficando calvas ou com grandes falhas no couro cabeludo.

Transtorno dismórfico corporal:  o paciente tem uma preocupação somática envolvendo a pele ou cabelo (Gupta, 2006). Pacientes com acne, 14% -21% têm aspectos desse transtorno (Bowe, Leyden, Crerand, Sarwer, & Margolis,2007)

Nesses casos os pacientes são mais sensíveis aos tratamentos não-farmacológicos ativos tais como o exercício e a psicoterapia. Drogas com ação do sistema nervoso central geralmente são mais eficazes do que os medicamentos usados para afetar a função fisiológica periférica (Henningsen, Zipfel, e Herzog,2007).

Transtorno Obsessivo Compulsivo[]

Cerca de 5% dos pacientes em uma clínica de dermatologia tinham transtorno obsessivo-compulsivo (Seyhan et al., 2006). Apresentando dermatites como neurodermatite e oncotilomania.  Para cada um destes tipos de dermatites, os métodos cognitivos-comportamentais podem ser benéficos assim como antidepressivos SSRI (Kearney e Silverman, 1990).

Neurodermatite: alteração na pele que se dá devido ao fato de coçar ou esfregar a pele constantemente

Oncotilomania: compusão em que se arrancam pedaços de unha ou as traumatiza profundamente.

Distúrbios do SNC[]

Prurido neurogênico: Embora os anti-histamínicos, que são sedativos como hidroxizina (Atarax ®) ou doxepin (Sinequan) tenham algum efeito antipruritico, não há nenhuma medicação antipruriginosa realmente potente disponível para o tratamento desta condição. Em alguns casos, a hipnose e auto-hipnose podem ser úteis (Shenefelt, 2000).

Distúrbios do SNP[]

Coceira neuropática periférica e neuralgia pós-herpética :  uso tópico de Mentol ou capsaicina pode oferecer alívio tal como as gabapentinas orais.

Neuralgia pós-herpética:  geralmente em pacientes com mais de 60 anos, e é  uma condição dolorosa que afeta as fibras nervosas e sua pele.

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Distúrbios Psicodermatológicos


Distúrbios psiquiátricos secundários a doenças de pele[]

Cerca de 30% dos pacientes com doenças de pele apresentam transtornos psiquiátricos e deficiências psicossociais.

Síndromes de Doenças Específicas

Acne: aumento da secreção sebácea associada ao estreitamento e obstrução da abertura do folículo pilosebáceo, dando origem aos comedões abertos (cravos pretos) e fechados (cravos brancos).  O aumento da secreção sebácea facilita a proliferação de microorganismos que provocam a inflamação característica das espinhas, sendo o Propionibacterium acnes o agente infeccioso mais comumente envolvido.

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Acne

A presença da acne causa ansiedade vergonha, mau funcionamento social e afeta a auto-confiança. O estresse e ansiedade acabam por se tornar um círculo vicioso.

A adolescência é a faixa etária mais afetada pela presença da acne, principalmente por ser uma fase vulnerável emocionalmente.

O tratamento medicamentoso pode ser através de cremes dermatológicos, ansiolíticos e técnicas de relaxamento.

Urticária

Os estímulos de origem da urticária podem ser de ordem imunológica ou não imunológica.

Não imunológicas: reação alérgica a agentes físicos: medicamentos; alimentos; picadas de inseto; exposição direta da pele ao frio, calor, raios solares, água (quente e fria); exercícios físicos.

Imunológicas: Infecções Virais: Hepatite, mononucleose infecciosa, rubéola.

Pacientes com urticária também possuem o circulo vicioso Ansiedade – Estresse, além de apresentaram vergonha pela sua condição.

O tratamento medicamentoso é feito através de ansiolíticos e anti-histamínicos. 

Alopécia

Trata-se da redução parcial ou total de pelos ou cabelos em uma determinada área de pele

Causa ansiedade, estresse e depressão. O paciente possui vergonha de sua aparência, o que afeta a auto-estima e a sua  auto-confiança. Arranhões fazem parte do agravamento da doença e o tratamento é feito através de soluções capilares, vitaminas, anti-histamínicos e ansiolíticos. 

Prurido

Também designado como coceira. Como o prurido pode ser exacerbado por estresse mental,  esse distúrbio faz parte das doenças dermatológicas com o círculo vicioso Ansiedade- Estresse.

Psoríase

É uma doença crônica intratável e hiperproliferativa da pele, caracterizada por: placas secas, eritematosas, coalescentes e cobertas por abundantes escamas branco-acinzentadas .

Como causas apresentam os fatores genéticos, e os fatores ambientais, que conduzem a esse distúrbio dermatológico.

Os adultos encaram a doença com antecipação de rejeição, sentimento de invalidez, susceptibilidade a atitude de outras pessoas, culpa e vergonha e ocultação de si mesmo. Em alguns casos há associação da doença com depressão e suicídio (Ginsburg e Link, 1989).

Aprimoramentos no diagnóstico e delineamento das pesquisas são necessários para que estudos enfoquem a influência de fatores psicológicos na psoríase,

Dermatite

É uma reação alérgica da pele que gera sintomas localizados como coceira e vermelhidão. A associação entre fatores psicológicos e dermatoses não têm sido investigada de forma sistemática.

Garvey e Tollefson (1988): Ansiedade, transtornos do humor e síndromes psicofisiológicas coexistem em alguns casos de dermatose. O papel anormal dos mecanismos serotoninérgicos têm sido implicados.

Vitiligo

É uma afecção da pele caracterizada por perda parcial ou completa dos melanócitos situados na epiderme. As lesões apresentam-se de forma plana, bem demarcadas e assintomáticas de perda de pigmento. A  incidência do vitiligo na população mundial é de 1% , afetando todas as raças e tanto o sexo feminino quanto o masculino. Embora possa iniciar em qualquer idade, em 50% dos casos o vitiligo inicia entre 10 e 30 anos de idade. A distribuição das manchas pela pele varia, sendo mais comum as áreas do punho, as axilas, e as regiões perioral, periorbitária e anogenital. Seu tamanho também muda de poucos a muitos centímetros.

Lopez, Fajardo e Lera (1995) realizaram um estudo que buscou identificar as características dos enfermos de vitiligo, e constataram que, em 77% da amostra, a doença apareceu após eventos estressantes significativos para o paciente em um período não maior que um ano. Os resultados apontaram também que, quanto maior a área corporal afetada pela despigmentação, maior era o nível de stress, depressão e tensão emocional.

Kent e Al’ Abadie (1996) entrevistaram 614 pacientes afetados pelo vitiligo e as expostas mais comuns relatadas foram: uso de camuflagem para esconder as manchas, percepção negativa por parte dos outros e sentimento de vergonha.

Dermatoses auto-infligidas

Associadas ao retardo mental, à psicose, a transtornos factícios e a simulação. Possui maior prevalência nos casos de depressão maior e ansiedade generalizada.

Distúrbios Dermatológicos e Medicação Psicotrópica[]

Neurolépticos:

O uso de clorpormazina pode causar descoloração da pele exposta ao sol, desenvolvimento de urticária. Enquanto que o uso de haloperidol faz a pigmentação cutânea voltar ao normal.

Alérgenos psicotrópicos intrínsecos:

Podem causar broncoespasmos urticariformes, rashes papulares, angioedema, rinite, um exemplo de medicamento é a tartrazina ( imipramina e desipramina).

Antidepressivos:

Podem causar erupções acneformes, dermatite seborreia, dermatite de contato, erupções pruriginosas, urticária.

Os antidepressivos tricíclicos causam reações de fotossensibilidade. E a fluoxetina pode causar acne, alopecia, dermatite de contato, pele seca, herpes simples. O uso da trazodona pode levar ao surgimento de eritema multiforme.

Lítio:

Aumenta a proliferação celular epidérmica e pode causar acne, foliculite e rash maculopapular.

Educação para o paciente e a família

É importante o conhecimento sobre a doença (causa, evolução, cura), da interação mente – corpo, dos tipos de tratamento e a ajuda emocional da família.

Referências bibliográficas[]

STOUDEMIRE, Alan. Fatores psicológicos afetando condições medicas. Porto Alegre: Artmed, 2000. 197 p

SILVA, Juliana Dors Tigre.;MÜLLER, Marisa Campio. Uma integração teórica entre psicossomática, stress e doenças crônicas de pele. Acesso em: 25/08/2013. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v24n2/v24n2a11.pdf

Dermatologia e emoções. Psiqweb. Acesso em: 25/08/2013. Disponível em: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=40

Management of Psychodermatologic Disorders. Disponível em: http://www.medscape.com/viewarticle/730033_1

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