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Editora: Ana Paula Mariussi[]

Definição[]

COMA é o estado de ausência do ciclo sono-vigília e de não responsividade aos estímulos externos. Ocasionado por disfunção/lesão hemisférica bilateral ou por disfunção/lesão no Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA). Para se ter o coma, o comprometimento cortical deve ser bilateral.

Fisiologia[]

O sono é parte do chamado ciclo sono-vigília. Em comparação com a vigília, que é o período de atividade mental e dispêndio de energia, o sono é um período de inatividade e restauração da função mental e física. O sono proporciona tempo para a entrada das informações adquiridas durante períodos de vigília na memória e para restabelecer a comunicação entre diferentes partes do cérebro. O sono também é o momento em que outros sistemas corporais restauram sua energia e reparam seus tecidos. A atividade muscular e a digestão diminuem e a atividade do sistema nervoso simpático fica diminuída. Muitos hormônios, como o hormônio do crescimento, são produzidos de maneira cíclica correlacionando-se com o ciclo sono-vigília, sugerindo que o crescimento e a reparação tecidual podem ocorrer durante o sono.

Ciclo Sono-Vigília[]

O ciclo sono-vigília normalmente consiste em um padrão sincrônico de vigília e sono regulado pela estrutura encefálica. 

A vigília é um estado de estar ciente do meio à sua volta – de receber e responder a informações oriundas de todos os sentidos, colocando tais informações na memória e relembrando e integrando experiências presentes com memórias previamente guardadas.

Alerta: de olhos abertos, com capacidade de interagir com o meio ambiente.

O sono representa um período de consciência diminuída a partir da qual uma pessoa pode ser acordada por estímulos sensoriais ou outros estímulos. Ocorre em estágios durante os quais o cérebro permanece ativo, mas não processa informações sensoriais de modo eficaz.

Condição fisiopatológica[]

Situação de não estar alerta semelhante ao sono, mas um sono patológico, pois durante esse sono a pessoa se torna irresponsiva a estímulos externos, ou seja, perde a capacidade de reagir adequadamente aos estímulos externos. A responsividade a esses estímulos é alterada, pela disfunção nas estruturas que regulam o ciclo de sono e vigília.

Neurofisiologia[]

O sistema neurobiológico da consciência diz respeito ao ciclo sono-vigília, uma vez que este é reconhecido como responsável pelo nível de consciência. Assim destaca-se o papel da formação reticular – importante estrutura nervosa relacionada à consciência -, a qual é constituída por um conjunto de fibras nervosas, originadas posteriormente ao tronco encefálico, que se estende ao longo do bulbo, ponte e mesencéfalo.


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Sistema Reticular Ativadora Ascendente - Distúbios da Consciência Humana - Bases Neurobiológicas - Parte 1

               












Os neurônios do sistema reticular possuem longos axônios que se bifurcam originando ramos ascendentes capazes de ativar o córtex cerebral – através do tálamo (diencéfalo) -, bem como feixes descendentes que fazem conexão com a medula. As fibras ascendentes são responsáveis pela consciência, modulando o nível de vigília, bem como as funções cognitivas. O estado de vigília depende da ativação elétrica do córtex cerebral pelo diencéfalo a partir do sistema reticular ativador ascendente (SRAA).O SRAA exerce sua ação ativadora através dos núcleos talâmicos inespecíficos, uma vez que estes recebem muitas fibras do sistema reticular e as projetam para grandes territórios do córtex cerebral, modificando os potenciais elétricos do mesmo. Através do hipotálamo e do prosencéfalo basal os neurônios do sistema reticular também se projetam para o córtex. O estado de atenção é dependente da integridade funcional do córtex cerebral e de suas conexões subcorticais.

O que é necessário para a “consciência”?[]

Praticamente todo o encéfalo deve estar íntegro para se ter a capacidade de ter ciclo de sono-vigília adequados. A função do SRAA – talâmico – cortical depende:- Integridade anatômica das estruturas;- Integridade metabólica e circulatória;- Integridade de neurotransmissão. 

Variação dos Níveis de Consciência:


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Alteração do nível de consciência - Anotações em sala.









A alteração da consciência pode variar desde a vigília (estado de alerta, interação com o meio), até o estado de coma (sono patológico com estado de irresponsividade adequada aos estímulos externos). Entre esses dois extremos existem outros níveis que são difíceis de diferenciar clinicamente, assim, o estado de coma se diferencia dos outros estágios por aplicação de uma escala objetiva, chamada Escala de Coma de Glasgow.

Abordagem Diagnóstica[]

A investigação semiológica se destaca na abordagem diagnóstica do enfermo em estado de coma. Geralmente, a avaliação do indivíduo cujo nível de consciência encontra-se comprometido é uma tarefa complexa, tendo em vista as dificuldades para se analisar diretamente a consciência. Assim, é exigida uma observação atenta de um conjunto de sinais clínicos fundamentados em uma cuidadora e sistemática avaliação neurológica a partir dos seguintes itens: 

1. Nível de consciência,

2. Diâmetro e reflexo pupilar,

3. Movimentação extrínseca do globo ocular,

4. Padrão respiratório e,

5. Resposta motora esquelética aos diferentes estímulos.

Assim, a articulação desses itens juntamente com a anamnese, quando possível, permitirá a proposição de hipóteses diagnósticas, para guiar a melhor medida terapêutica.

O estado de coma, caracterizado pela redução do nível de consciência, é uma condição clínica na qual o paciente permanece de olhos fechados, sem resposta aos estímulos externos e sem demonstrar conhecimento de si próprio e do ambiente (vida de relação). Desta forma, utiliza-se, didaticamente, o tempo para definir os diferentes estados de consciência.

Coma => até 30 dias.

Estado Vegetativo => 2 meses

Estado Vegetativo Persistente => após 3 meses.

Em geral, os pacientes que sobrevivem ao coma começam a despertar e recuperar a consciência gradualmente dentro de 2 a 4 semanas.

A avaliação inicial do paciente em coma inicia-se pela coleta de informações de familiares, amigos e profissionais envolvidos no atendimento pré-hospitalar, sobre o início e a evolução clínica do coma, utilização de medicações e de outras drogas, doenças associadas e em que circunstâncias o paciente foi encontrado.

Escala de Coma de Glasgow (ECG)[]

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Escala de Coma de Glasgow - Anotações em sala

    







   A Escala de Glasgow é utilizada na avaliação da consciência, sendo mais sensível à mudança nos rebaixamentos mais intensos da consciência. Essa escala consiste em uma avaliação clínica do nível de consciência dos pacientes com dano cerebral – quadros agudos e de trauma, podendo variar de 15 até 3. A aplicação dessa escala é rápida, de fácil compreensão e permite concordância entre avaliadores.  

O ponto de corte considerado para a escala é 8, mas com variações dependendo do nível de estímulo que foi necessário para se obter uma resposta. Um escore menor que 8 é comumente aceito como ponto crítico das alterações do nível de consciência e como a pontuação que define um indivíduo em estado de coma. 

A escala apresenta 3 áreas de avaliação e em cada uma vários níveis de resposta. Inicia-se com resposta ocular, depois a resposta motora e posteriormente com a resposta verbal. Cada um desses indicadores é avaliado separadamente e o paciente recebe uma pontuação considerando a melhor resposta apresentada. 

Reatividade Pupilar e Movimentos Oculares

O diâmetro e a reatividade pupilar são características mantidas pela atividade dos neurônios simpáticos e parassimpáticos que inervam os músculos dilatadores (midríase) e constritores (miose) da pupila. Caso haja prejuízo de alguma via autonômica, o diâmetro pupilar estará na dependência da via menos danificada. Uma vez que as regiões responsáveis pelo estado de vigília encontram-se próximas as vias do sistema nervoso autônomo no tronco encefálico, torna-se necessário pesquisar alterações pupilares com o objetivo de diagnosticar topológica e etiologicamente a provável causa do coma. Nessa avaliação a pontuação do paciente varia de 1 à 4. O indicador de abertura ocular está diretamente ligado à aparência de vigília que é um parâmetro de avaliação do funcionamento do mecanismo de ativação do córtex cerebral, ou seja, da função do sistema reticular ativadora ascendente.  

Esse indicador permite a inclusão da resposta do paciente em quatro itens:

- Abertura ocular espontânea: 4

- Estímulos verbais: paciente sonolento, mas a partir de estímulo verbal é responsivo e permanece de olhos abertos interagindo, receberá 3.

- À dor: paciente que somente com o estímulo verbal não responde, utiliza-se estímulo doloroso, se reagir, ganhará 2.

- Ausente: mesmo com o estímulo doloroso o paciente não reage, receberá 1.


Resposta motora

A avaliação da resposta motora esquelética do paciente em coma inicia-se pela observação da postura em repouso, movimentação espontânea e da resposta a estímulos dolorosos. Durante a avaliação da postura pode-se observar características tanto extensoras quanto flexoras das extremidades superiores e inferiores dos membros. 

Esta avaliação varia de 1 a 6:

- Obedece a comandos: pessoa que interage adequadamente, obedece a comandos, realiza todos os movimentos solicitados pelo examinador, receberá 6.

- Localiza dor: paciente que não responde aos comandos solicitados, partindo assim para estímulos dolorosos. Quando realizado um estímulo doloroso no paciente, este localiza e afasta a fonte dolorosa, receberá 5.

- Retirada inespecífica: paciente com resposta motora inadequada em função da lesão cerebral. Faz-se o estímulo doloroso, o paciente não localiza a dor, mas tem uma retirada inespecífica, ou seja, mostra sinal de desconforto, movimenta o corpo, não tendo o ato de retirar a fonte dolorosa. Receberá 4.

- Padrão flexor: frente ao estímulo doloroso o paciente tem uma resposta flexora dos membros superiores (especialmente cotovelos e punhos), sendo considerada uma resposta desorganizada e que não retira a fonte dolorosa. Esse padrão flexor chama-se resposta de decorticação (Figura A). Este é geralmente produzido por extensas lesões envolvendo o diencéfalo e o mesencéfalo. Quando o paciente possui uma resposta flexora unilateral, presume-se que a lesão cortical seja contralateral. Receberá 3.

- Padrão extensor: frente ao estímulo doloroso o paciente não tem a resposta esperada e sim uma reposta extensora dos membros inferiores e superiores acompanhada de adução, extensão e rotação interna dos ombros, cotovelos e punhos, chamada também de padrão postural de descerebração (Figura B). Receberá 2. 

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Figura A - Decorticação. Figura B - Descerebração. Distúbios da Consciência Humana - A Abordagem dos Enfermos em Coma. Parte 2.











- Ausência: quando o paciente não reage a nenhum estímulo. Receberá 1.

Resposta Verbal


- Orientado: estabelece-se uma relação de comunicação com o paciente e se este estiver orientado, conversando adequadamente, localizado (do ponto de vista espacial) receberá 5.

- Confuso: quando o paciente não está orientado, receberá 4.

- Inapropriada: o paciente possui a fala normal, mas a informação transmitida é desconexa. Não se localiza e não se orienta apesar da fala ser entendível. Receberá 3.

- Incompreensível: quando o paciente só tem a capacidade de emitir sons, sendo a fala incompreendida sem transmissão da informação. Utiliza-se o estímulo doloroso e mesmo assim o paciente não esboça reação verbal. Receberá 2.

- Ausente: quando o paciente não esboça nenhuma reação verbal, receberá 1.

Causas de Distúrbios da Consciência[]

As estruturas responsáveis por manter o indivíduo consciente estão localizadas no tronco cerebral, no diencéfalo e no córtex cerebral. Prejuízos que acometam estas áreas ou os hemisférios cerebrais difusamente, de origem traumática ou não, podem levar a supressão da função tálamo-cortical e, consequentemente, evolui para alterações do nível de consciência, incluindo o estado de coma.


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Causas dos Distúrbios de Consciência. Anotações em sala.

                  















Síndrome do Cativeiro (Locked-in Syndrome)[]

Síndrome em que há comprometimento do bulbo e da ponte, mas o mesencéfalo e o córtex permanecem preservados; as possíveis causas podem ser AVC, trombose da artéria basilar interrompendo o suprimento sanguíneo do bulbo e da ponte – afeta, bilateralmente as vias corticoespinhais e corticobulbares, impedindo, deste modo, que os sinais originados no córtex cheguem à medula espinhal e aos nervos cranianos, resultando em tetraplegia e anartria (dificuldade ou impossibilidade articular).

O paciente encontra-se consciente e é capaz de se comunicar através de movimentos verticais dos olhos ou por piscadas, ou seja, não há uma real alteração do estado de consciência, mas apenas a aparência desta situação. Esta lesão pode poupar as vias somatossensoriais e o SRAA, responsáveis pela sensibilidade somestésica (sensibilidade) e pela consciência, respectivamente, bem como conservar regiões do mesencéfalo que permitem movimentos oculares verticais e elevação das pálpebras. O paciente é, portanto, plenamente consciente e capaz de sentir, ouvir e compreender tudo em seu entorno.


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Locked-in syndrome e Apallic syndrome.










Indicação de filme: O Escafandro e a Borboleta. 


Apallic Syndrome

Lesões que causam comprometimento do córtex bilateral e preservação do tronco cerebral. Esse paciente não está consciente, não possui nenhuma forma de interação, somente respira, sendo a forma mais grave do estado vegetativo persistente.Alguns tipos de evolução do estado de coma: lesão bifrontal – paciente não possui interação cognitiva, estando alheio, indiferente ao ambiente. Mutismo acinético => parece mudo de tão indiferente com o ambiente. 

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Bifrontal lesion e Lesion causing death.

     









Consumo energético (oxigênio, glicose e nutrientes):[]

Fig coma

Consumo energético em vários estágios de consciência.











O paciente em estado de coma apesenta um metabolismo cerebral cerca de 50% diminuído, em relação á uma pessoa normal.

O que pode Simular o Coma?[]

Pseudocoma psicogênico: Geralmente comportamento não compatível com coma, tais como, resistência contra a abertura ocular, rolar para não ser examinado, empurrar o examinador com posturas tônicas.

- Olhos fechados durante movimentos tipo convulsivos;

- Movimentos cefálicos para frente e para trás;

- Segurar grade da maca sacudindo-a;

- Chorar ou gritar durante o ictus;

- Eventos precipitados por situações;

- Ausência de escoriações com as quedas e convulsões;

- Mordedura da ponta da língua, ao invés das laterais;

- Grande variabilidade de fenômenos motores de uma crise para outra;

- Ausência de apneia ou acidose respiratória e/ou metabólica na gasometria;

- Ausência de achados no EEG compatíveis com convulsão.

Abordagem Inicial[]

Os estados de alteração do nível de consciência devem ser encarados anatômica e fisiologicamente. 

História adequada: Doenças de base, comportamento, situações estressoras, medicações, história de trauma, exposição a drogas (prescritas ou recreacionais), infecções recentes, febre, estado de imunidade.

Concomitante estabelecer o ABC para estabilização do paciente, observando a atividade motora, padrão respiratório, posturas anormais, ectoscopia.

- ABC:

Intubação se GCS<8 – Suporte de via aérea;

Estabilização cervical – Trauma;

Suplementação O2

Acesso venoso

Suporte hemodinâmico – PA média adequada.

Ofertar glicose em casos de hipoglicemia - GH 50% - 50ml se HGT < 60

Geralmente alcoólatras e pacientes desnutridos - Tiamina 100mg IV (cofator do metabolismo neuronal).

Considerar tratamento empírico:

Para possível infeção: Ceftriaxona/ aciclovir

Para possível intoxicação: Naloxone/ flumazenil/ lavagem gástrica/ carvão ativado

Para possível HIC: Manitol rápido

Para possível status não convulsivo: Fenitoína (hidantalização)

Exame Físico Inicial[]

- Exame físico minucioso

- Dados vitais e sinais de hipóxia 

- Aparência geral e pele: estigmas de endocrinopatia ou hepatopatia, sinais de ferimento ou veno-punção, cicatrizes cirúrgicas ou traumáticas, caquexia, hematomas (retro-auricular, palpebral)

- Exame segmentar: deve ser completo, buscando e registrando sinais positivos ou negativos.

Exame Neurológico[]

Limitado pela não colaboração do paciente.

Deverá incluir:

- Escala de coma de Glasgow;

- Nível de consciência: Atividade motora espontânea e resposta a estímulos;

A motilidade extrínseca do olho é realizada pelos músculos, os quais são inervados pelos nervos oculomotor (terceiro nervo craniano), troclear (IV par) e abducente (VI par), seus núcleos formadores, localizados no tronco encefálico. Assim, a avaliação dos movimentos oculares torna-se um valioso guia para investigar a presença e nível de lesão no tronco, mais especificamente na substância cinzenta do mesencéfalo (núcleos do III e do IV pares) e da ponte (núcleos do VI par). Uma vez que o paciente em coma tem uma resposta reduzida aos estímulos, não é possível avaliar a motricidade ocular voluntária, situação que restringe o examinador à análise das vias reflexas encontradas no tronco. 

A motricidade extrínseca do olho sem alterações pode significar que a região localizada ao nível do sulco bulbo-pontino (origem aparente no tronco) e os núcleos do nervo oculomotor no mesencéfalo estão preservados.

O exame da movimentação extrínseca do olho consiste na avaliação de três aspectos: (1) desvio do olhar, (2) presença de movimentos espontâneos e (3) movimentos reflexos.

A avaliação dos movimentos oculares espontâneos permite saber se há integridade das vias oculomotoras. A presença de movimentos oculares alternantes periódicos – ou de movimentos em “ping-pong”, nos quais os olhos oscilam horizontalmente –, sugerem lesão de verme cerebelar ou supratentorial difusa, apesar da etiologia ser incerta. 

Contudo, alguns autores referem que esses movimentos traduzem integridade das vias oculomotoras. O nistagmo é um achado raro no paciente comatoso, uma vez que reflete a interação entre o sistema oculovestibular e o córtex cerebral. O “bobbing” ocular consiste em movimentos de ambos os olhos para baixo com retorno lento para a posição inicial; é visto em lesões destrutivas da ponte, hemorragias cerebelares ou hidrocefalia. 


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Possíveis achados patológicos das pupilas no coma. Distúbios da Consciência Humana - A Abordagem dos Enfermos em Coma. Parte 2.

        









- Pupilas: indica integridade do mesencéfalo - tamanho, reatividade a luz, analisando abertura e fechamento da pupila. Pupilas reativas à luz => integridade da via óptica (nervo óptico) e mesencéfalo.

- Reflexo córneo palpebral: estimulação da córnea através de algodão úmido para se obter o reflexo de piscar; envolve o nervo trigêmeo e o facial.

- Reflexo óculo-vestibular e manobra óculo-encefálica (olhos de boneca): Os movimentos reflexos são testados a partir das respostas oculocefálicas e oculovestibular. O reflexo oculocefálico – ou manobra dos olhos de boneca – é pesquisado através da observação dos olhos durante a rotação lateral e vertical passiva da cabeça do paciente. Em pacientes com o tronco cerebral intacto, os olhos movem-se de forma conjugada no sentido oposto ao do movimento da cabeça. Se este reflexo estiver ausente, uma investigação mais precisa pode ser realizada a partir da manobra oculovestibular (prova calórica). 

A prova calórica consiste na pesquisa dos reflexos oculovestibulares, através da injeção de 50 a 200 ml de água gelada nos condutos auditivos externos do paciente, depois de se verificar que a membrana timpânica está íntegra. Esta manobra deve ser realizada com a cabeceira do leito elevada 30º, a fim de que a resposta seja mais fidedigna. Em um paciente consciente, este procedimento provoca nistagmo com batimento rápido para o lado oposto do ouvido estimulado, o que pode indicar uma causa psicogênica para o coma.



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Pesquisa de reflexos oculares no coma. Reflexo oculocefálico (manobra dos olhos de boneca) normal. Distúbios da Consciência Humana - A Abordagem dos Enfermos em Coma. Parte 2.

        






   

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Pesquisa de reflexos oculares no coma. Reflexo oculovestibular. Distúbios da Consciência Humana - A Abordagem dos Enfermos em Coma. Parte 2.

        









A resposta tônica conjugada com movimento dos olhos para o lado estimulado indica integridade da ponte e do mesencéfalo, sugerindo lesão supratentorial como causa do coma. Uma resposta desconjugada indica lesão do fascículo longitudinal medial, no nervo oculomotor ou nervo abducente. Para testar os movimentos verticais, ambos os condutos auditivos devem ser estimulados simultaneamente com água fria (causando desvio ocular para baixo) ou água quente, a 44ºC (causando desvio para cima).

A ausência de resposta pode revelar lesão intrínseca do tronco encefálico; sem embargo, deve-se estar atento para a possibilidade da participação de drogas vestíbulosupressoras, tais como barbitúricos, bloqueadores neuromusculares e fenitoína. 

Olhos de boneca: comprometimento da ponte.

- Avaliação da função motora e da postura (decorticação e decerebração);

- A presença das posturas de decorticação ou decerebração, assim como, a ausência de reação ao estímulo doloroso estão associados a graus mais profundos de disfunção; 

O padrão respiratório deverá ser avaliado através da inspeção e de gasometria arterial. 


O estado vegetativo, o estado minimamente consciente e a síndrome do cativeiro constituem possíveis evoluções do estado de coma. Cada um desses distúrbios possui características clínicas e metabólicas próprias que os distinguem, passando pela ausência de consciência ao exame clínico do paciente em estado vegetativo, ao perfeito estado de consciência encontrado na síndrome do cativeiro. 

Estado Mínimo de Consciência[]

O termo estado minimamente consciente é utilizado para descrever pacientes que estão inconscientes, mas apresentam significativas respostas comportamentais. Trata-se de presença parcial da consciência, característica que o distingui do coma e do estado vegetativo. O aparecimento de comportamentos conscientes sugere a possibilidade de uma retomada de alguma atividade cortical associativa. 

O elemento-chave para o diagnóstico é a existência de pelo menos um sinal reprodutível claro de consciência representado a partir dos seguintes comportamentos:

1. Obedecer a comandos simples;

2. Presença de respostas verbalizadas ou através de gestos do tipo sim/não;

3. Verbalização ininteligível;

4. Comportamentos afetivos não atribuídos a reflexos – por exemplo, episódios de chorar, sorrir, ou rir como respostas a estímulos auditivos ou visuais;

5. Exploração manual de objetos.  De modo geral observa-se o início de um ambiente de comunicação interativa, de um lado médicos e familiares e de outro o paciente. 


Estado Vegetativo[]

O estado vegetativo é uma condição em que há vigília sem percepção do ambiente, na qual o paciente abre os olhos, dando a aparência de um ciclo sono-vigília, com a função autônoma preservada, porém sem funções cognitivas e movimentos voluntários. Esta situação ocorre quando a recuperação do córtex é mais lenta em relação ao tronco cerebral ou quando o córtex sofre uma lesão irreversível. 

O estado vegetativo pode fazer parte do caminho que levará a cura, mas, também, pode evoluir para uma situação irreversível: o estado vegetativo persistente. Esta condição clínica é definida caso o paciente perdure em estado vegetativo por mais de seis meses em caso de lesões não traumáticas ou mais de 12 meses para lesões traumáticas. 

O diagnóstico de estado vegetativo é feito após repetidos exames não terem produzido qualquer prova, de forma sustentada e reprodutível, de consciência de si ou do ambiente, resposta a estímulos externos e nenhuma evidência de compreensão da linguagem. Geralmente, esses pacientes têm os reflexos do tronco cerebral e dos nervos espinhais presentes, necessitando, raramente, de suporte para respirar, ainda que apresentem incontinência esfincteriana.

O paciente consegue abrir os olhos, mas é incapaz de seguir objetos em movimento.Admite-se que o problema central na avaliação do estado vegetativo e de outros distúrbios da consciência não está na compreensão da natureza da consciência em si, mas sim em definir onde reside o ponto de transição, no intermezzo, entre o consciente e o inconsciente. Deste modo, o avaliador deve determinar cuidadosamente, baseado no comportamento do paciente, se o mesmo está consciente e, assim, excluir a possibilidade de que esteja em estado minimamente consciente ou estar sofrendo de síndrome do cativeiro. Alguns pacientes podem progredir de um estado vegetativo para um de maior nível de consciência, conhecido como o mínimo estado consciente.

Estado Vegetativo Persistente[]

As lesões direta ou indiretamente infligidas ao Sistema Nervoso Central (SNC) podem ter consequências muito diversas no normal funcionamento cerebral. Independentemente da etiologia da lesão (traumática, tumoral, vascular, infecciosa, isquêmica ou outra) pode surgir um quadro de coma, susceptível de evoluir de várias formas. Assim nos extremos estarão a recuperação completa ou a morte cerebral, mas entre eles ocorrem situações de gravidade variada e de prognóstico distinto, entre as quais o chamado estado vegetativo persistente (EVP).

Este quadro reveste-se de características clínicas muito especiais, que levantam problemas de diagnóstico, tratamento e prognóstico, além de questões éticas, nomeadamente quanto à legitimidade de interrupção de medidas de suporte terapêutico.  

Definição de EVP

O estado vegetativo é uma situação clínica de completa ausência da consciência de si e do ambiente circundante, com ciclos de sono-vigília e preservação completa ou parcial das funções hipotalâmicas e do tronco cerebral.São necessários três critérios clínicos:

1. Ausência de evidência de consciência de si ou do ambiente. Sem resposta volitiva a estímulos visuais, auditivos, tácteis ou nóxicos. Sem evidência de compreensão ou expressão da linguagem;

2. Ciclos de encerramento e abertura dos olhos, simulando o sono e a vigília;

3. Funções do tronco cerebral e do hipotálamo suficientemente preservadas para manutenção da respiração e da circulação autónomas. O EVP distingue-se inequivocamente do estado de morte cerebral, quer por critérios clínicos, quer por critérios laboratoriais. Igualmente o prognóstico é  completamente distinto e por isso eles requerem abordagens clínicas e terapêuticas totalmente diversas. 

Os exames laboratoriais e de imagiologia não fornecem padrões consistentes para o diagnóstico de EVP: o eletroencefalograma (EEG), a TAC e a RMN, e a tomografia por emissão de positrões (PET).

Referências:[]

Porth CM. Fisiopatologia. 6ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.

- Carneiro AV, Antunes JL, Freitas AF. Relatório Sobre o Estado Vegetativo Persistente. Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.Portugal - Lisboa.

- Mendes PD, Maciel MS, Brandão MVT, Fernandes PCR, Antonio VE, Kodaira SK, Batista RS. Distúbios da Consciência Humana - Bases Neurobiológicas - Parte 1. Rev Neurocienc 2012;20(3):437-443.

- Mendes PD, Maciel MS, Brandão MVT, Fernandes PCR, Antonio VE, Kodaira SK, Batista RS. Distúbios da Consciência Humana - A Abordagem dos Enfermos em Coma. Parte 2. Rev Neurocienc 2012;20(4):576-583.

- Mendes PD, Maciel MS, Brandão MVT, Fernandes PCR, Antonio VE, Kodaira SK, Batista RS. Distúbios da Consciência Humana - Intermezzo entre Coma e Vigília. Parte 3. Rev Neurocienc 2013;21(1):102-107.

Links Externos:[]

http://www.youtube.com/watch?v=OP9ujfmJiSc

http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/417.pdf

http://drauziovarella.com.br/drauzio/consciencia-no-estado-vegetativo

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